Vamos abafar a emoção com um doce?

Estou querendo escrever este post à muito tempo, porém, a correria e as obrigações diárias, junto com mil projetos, me deixaram sem escrever por um tempo.

Mas vamos lá… continuando o que iniciei a algum tempo quando escrevi este post :https://docedia.wordpress.com/2012/04/06/cuide-de-sua-alimentacao-antes-durante-e-depois-da-gravidez/  que relaciona alimentação saudável antes, durante e depois da gravidez , gostaria de continuar na temática, alimentação saudável.

Ter filho me deixou com uma sensação de responsabilidade muito maior do que eu já tinha, uma alimentação ainda mais equilibrada, e não só isso, mas tenho a oportunidade de reavaliar hábitos e repensar um pouco como a sociedade gera a cada dia, crianças, adolescentes e adultos, que compensam suas frustrações nos alimentos.

E explico: fui ao posto de saúde, vacinar Lucas contra a gripe. Fiquei observando as mães ao  redor, para minha surpresa, quase todas elas estavam ou com uma bala , ou pirulito ou prometendo sorvete após a “picada”. Esta cena me fez parar e pensar um pouco mais nestas situações. Não é raro ver em shoppings , mercados, ou em qualquer local público, mães e pais ( avós, tios, primos) “abafarem” o choro de uma criança com alimentos. E não , não é fome que elas sentem, mas em muitos momentos frustração ( tão natural à vida humana) por não conseguirem o brinquedo que querem, ou sair correndo por aí, ou mesmo , a atenção do pais, ou alguma dor.

Tendemos a “calar” as emoções com alimentos, principalmente, com doces, forma mais eficaz de se sentir “feliz”. Mas será mesmo?

Aprendemos desde muito cedo, que as emoções não são bem vindas, afinal, “é melhor ser alegre que ser triste
alegria é a melhor coisa que existe” , parafraseando Vinicius de Moraes. E não estou dizendo que ser alegre não é bom, o que quero trazer para reflexão é o hábito tão prejudicial de calar emoções com comida, e pior de tudo, ensinar isso para as crianças ( afinal, só podemos ensinar aquilo que nós mesmos fazemos…), que se tornarão adultos que repetem estes hábitos  e o ciclo continua infindavelmente.

Por isso, ouvimos tanto o famoso “tadinho, tem diabetes, não pode comer doces”.  Em uma sociedade que compensa ansiedades, tristezas, frustrações com comidas , é natural a tendência de sentir “pena de quem não “pode” “comer uma caixa inteira de chocolate, um pote todo de sorvete, uma lata de leite condensado. ( ou mesmo um bom tanto todo dia)

A questão é: ninguém deveria fazer isso, ninguém deveria comer desmedidamente, qualquer que for o alimento.

Alimentação saudável começa em casa, e desde antes do nascimento. Maus hábitos são passados adiante, por pura “preguiça” em lidar com choros, birras, ou  avaliar o que está fazendo com que me sinta ansioso ou triste.

Comida é usada como compensação: “se comer tudo, ganha um chocolate depois “, “dou um doce para você se você fizer as tarefas”, “depois do médico vamos tomar um sorvete”, e por aí vai…  e não sou contra doces, o que estou  dizendo é: será mesmo necessário associar comida como recompensa?, será que não é possível lidar com os “nãos” da vida ( inclusive nós adultos) com maturidade e autenticidade? Será que não é possível lidar com a realidade sem necessitar “entupi-la de “doce”” ?

Desde muito cedo adquirimos os hábitos alimentares que nos nortearam a vida toda ( ou quase toda) e o problema não está somente na comida, no doce, mas no engolir as emoções, as dores, os sofrimentos, por não “poder” ser aceito como está, no momento vivido ( e não ser aceito por si mesmo). Uma picada de agulha na perninha de uma criança dói, e porque não podemos ficar com esta dor ao invés de fingir que a dor vai ser menor com um doce?

Porque não podemos deixar que aquele sentimento, bom ou ruim, nos tome e nos mostre qual o motivo e como é sentir o que estamos sentindo, ao invés de abafar tudo?!

E aprendemos sim, desde bebês a compensar com alimentos aquilo que não damos “conta” ( e que inicialmente era um “eles” ( os cuidadores) não dão conta).

Tenho milhões de idéias fervilhando nesta mente inquieta que tenho, e gostaria muito de ouvir vocês que passam pelo blog… tenho muito ainda para escrever sobre este assunto, mas não gostaria de escrever sozinha, se puderem me dizer o que pensam, ficarei muito feliz, e receberei cada comentário, sugestão ou crítica. 🙂

Um beijo em cada um que aqui passa

8 pensamentos sobre “Vamos abafar a emoção com um doce?

  1. Puuuuxaaa!!!! É bem isso que acontece, Elisa!!! No consultório, essa “troca” acontece direto! “Se se comportar direitinho, vai ganhar isso!” Eu fico indignada ouvindo isso! Porque não sei como agir…acho que a criança deveria saber que está em tratamento para o BEM dela e ponto! E na maioria das vezes, a culpa do medo das crianças é DOS PAIS! Porque em casa eles falam assim pra ela: “Se você não se comportar, vou te levar pro dentista pra ganhar uma injeção!” Uma vez, estava no trabalho e fui beber água. Passei por uma mãe e seu filho pequeno (que não parava quieto) que estavam na sala de espera. A mãe falou assim: “Ohh, fica quieto, se não vou pedir pra ela (no caso eu – que só fui tomar água) te dar uma injeção!!!” Fiquei louca!!! Olha o que a mãe estava fazendo? Associando a minha imagem de dentista (vestida de branco, com touca, máscara e jaleco) a algo TERRÍVEL!!! Saí inconformada…mas também não disse nada…
    Tenho feito palestras com crianças e adolescentes sobre saúde bucal em escolas! Fazia tempo que não entrava numa sala de aula e fiquei APAVORADA! Quase a sala toda mastigando alguma coisa! Alguma coisa = balas e chicletes! Tem alunos que chegam e já colocam várias balas em cima da carteira! Na minha época, os professores não deixavam ninguém ficar mastigando chiclete em sala, ainda mais colocar balas em cima da mesa…fiquei chocada! O trabalho de conscientização vem sendo muito difícil, mas temos que fazer a nossa parte!

    • é Cinthia, para o adulto é mais fácil não assumir a responsabilidade e assim , colocar as suas necessidades na criança, ou no outro “olha o tio vai te pegar”, ao invés de dizer: eu não gostaria que você fizesse isso… e tem muitas outras coisas ainda…obrigada pelo comentário! 🙂

  2. Ameeeiii!! Mto bom!! Concordo em gênero, número e grau… só espero eu nao repetir isso um dia! Porque convenhamos que lidar com o choro de uma criança é dificil neh?!
    Bjosss

    • é Joice, fácil não é, porque não temos paciência de parar e entender, porque as vezes é mais fácil dar uma palmada do que repetir “300” vezes a mesma coisa… lidar com criança é ter paciência ( o que as vezes é bem difícil mesmo), mas, precisamos começar de algum ponto para melhorar esta sociedade não é mesmo?! Obrigada por sempre passar aqui! 🙂 beijos

  3. guria, tens razão, e acho q minha mae me deu muito doce quando era criança, porque até hoje, qualquer que seja a emoção, ansiedade, me entupo de chocolate (barras grandes, nutella) ai vício! realmente se pensar que a situação não vai melhorar com o doce, quem sabe eu crie essa consciência e pare de comer tanto! bem legal o post!
    beijos

  4. Muito bom!!! Lidamos com isso muito no dia a dia! Os pais não querem deixar as crianças sentirem os sentimentos da vida e, com isso estão criando uma sociedade sem valores! Hábito alimentar é assim mesmo, você constrói!!

  5. Olha que sou chef de cozinha especializada em doces…E CONCORDO…Pois sou mãe de três crianças maravilhosas que prefiro não compensar seus acertos ou comportamentos com guloseimas mas ser MÃE….Deixando a vida e seus sentimentos não tornarem-se uma permuta gastronômica e sim tudo tendo sua hora e lugar. Ótimo post…!

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